
Antes de 2023, ser motorista de aplicativo era motivo de orgulho.
A Uber surgiu como uma revolução no transporte urbano brasileiro. Para muitos, foi mais que um aplicativo: foi uma salvação. Um novo começo. Era comum ver motoristas que, desempregados ou em busca de autonomia, encontraram na plataforma uma forma digna de sustentar suas famílias e organizar sua vida profissional com liberdade. Havia uma sensação real de parceria entre plataforma e motorista. Os ganhos eram proporcionais ao esforço, os custos operacionais ainda cabiam no bolso, e a sensação de ser seu próprio chefe era palpável.
Dirigir com a Uber, naquele momento, era sinônimo de oportunidade.
Mas tudo mudou.
De lá pra cá, a Uber passou de aliada a opressora. Desde 2023, a plataforma Uber Driver vem se tornando uma verdadeira armadilha para os motoristas brasileiros. O suporte é quase inexistente, os ganhos despencaram e a promessa de liberdade virou um ciclo exaustivo de exploração. O que antes era uma solução, hoje é um sistema que sangra o trabalhador enquanto engorda os lucros da empresa.
A questão não é falta de corridas, mas o valor irrisório pago por elas.
A Uber continua cobrando caro dos passageiros, mas paga cada vez menos aos motoristas e retém porcentagens absurdas da tarifa total. Quem dirige arca com tudo: combustível, manutenção, pneus, freios, seguro, desgaste do carro — e, claro, sua saúde mental e física. Já a Uber? Lucra sem se preocupar com quem realmente movimenta o sistema: o motorista.
O modelo de remuneração é um dos maiores absurdos.
A empresa tenta aplicar uma lógica de pagamento por tempo, mas o que realmente importa é a distância. Tudo que envolve o trabalho do motorista se mede em quilômetros rodados: o desgaste do carro, o consumo de combustível, a manutenção. Tempo é irrelevante — o trânsito, o tipo de estrada, o estilo de direção pouco importam quando o custo real está no percurso.
Antes de 2023, era comum alcançar um lucro médio entre R$ 1,80 e R$ 2,00 por quilômetro, somando até o deslocamento até o passageiro. Hoje, isso é uma raridade. A Uber paga muito menos, e só tenta disfarçar isso com tarifas temporariamente infladas durante os horários de pico (6h30–7h30, 12h20–13h30, 18h–19h) ou em dias de chuva. Mas esses “picos” não salvam ninguém.
O que vemos agora são jornadas de 12, 14, até 18 horas diárias, apenas para conseguir fechar o mês com alguma dignidade. Isso tem levado a um colapso silencioso: motoristas com a saúde mental abalada, finanças no vermelho, e sem nenhuma perspectiva de melhora.
As taxas de aceitação caíram. O número de cancelamentos aumentou. A confiança, evaporou.

A Uber se tornou um espelho distorcido da própria modernidade que prometia: tecnológica, sim — mas humana, jamais.
A empresa que já foi esperança, hoje é símbolo de precarização.
De companheira de jornada a vilã da estrada.
De promessa de liberdade a armadilha digital.
Uber Driver deixou de ser o melhor para ser apenas mais um no meio do montão.
E o que é pior: um dos mais exploradores.
Aos motoristas brasileiros resta uma dura pergunta: vale a pena continuar dirigindo em um sistema que anda nos empurrando para o fundo, enquanto lucra com o nosso desgaste?
By Motorista Parceiro